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Para não esquecer Luiz DelfinoPor Luis Carlos Amorim Quem foi Luiz Delfino? Não, ele não foi, como muitos pensam, apenas um político que virou nome de rua. Ele foi e é, isto sim, o segundo maior poeta catarinense. Ele até foi senador, foi também médico, mas foi na literatura que se perpetuou, ficando atrás apenas de Cruz e Sousa. Infelizmente, se fizemos uma enquete nas ruas de Florianópolis, sua cidade natal, pouquíssimos saberão dizer quem foi ele. Delfino nasceu em 1834, na ainda Desterro. Morou na ilha até os 16 anos. Mudou-se, então, para o Rio de Janeiro, onde se formou em Medicina. Foi um dos mais importantes médicos da época. Casou-se com Maria Carolina Puga Garcia, com quem viveu até sua morte, em 1910. Não publicou nenhum livro em vida, o que fez com que sua obra quase se perdesse no tempo. Sua poesia, de rima e métrica perfeitas, era publicada freqüentemente na maioria dos jornais e revistas da sua época, o que o fez conhecido e amado como poeta. Chegou a ser eleito, pelos próprios colegas escritores, em 1898, o "Príncipe dos Poetas Brasileiros". Foi chamado, também, de Victor Hugo brasileiro. Sua obra é imensa - escreveu mais de cinco mil poemas - e foi publicada em 14 livros, por seu filho, Tomás Delfino, entre 1926 e 1943. A obra publicada, no entanto, soma apenas um mil e quatrocentos poemas. É que em 1968, foi leiloado tudo o que estava dentro de uma casa que pertenceu ao poeta, no Rio de Janeiro, casa esta que guardava boa parte dos seus originais. Quem comprou foi um americano, David T. Hoberly, que estuda literatura brasileira. A poesia inédita do poeta saiu do país e provavelmente nunca mais a veremos. Sua poesia vai do romantismo ao parnasianismo, passando pelo simbolismo. A perfeição na rima em métrica dá cadência e musicalidade à obra de Luiz Delfino. O amor e a mulher eram seus temas preferidos. "Foi ele um verdadeiro obsessionado pelo mito da beleza, da sensualidade, da idealizada companhia feminina, cantando o amor com toda a sua força e com todas as suas formas de atração...", analisou Lauro Junkes. E é justamente Lauro Junkes, que estudou a obra e a vida de Luiz Delfino, que organizou e publicou dois volumes - "Poesia Completa - Sonetos" e "Poesia Completa - Poemas Longos", totalizando mais de mil e trezentas páginas, reunindo toda a poesia conhecida do poeta, resgatada dos livros que o filho de Delfino editou. Os livros foram publicados através da Academia Catarinense de Letras, resgatando um legado riquíssimo deixado por este grande poeta, marco das letras catarinenses. Os dois livros - totalizando mil e quinhentos exemplares - foram distribuídos a todas as bibliotecas municipais e estaduais e escolas de segundo grau de Santa Catarina, para que o poeta tenha sua obra conhecida pelos leitores em formação e pelo público em geral. E o seu valor reconhecido. Uma amostra da obra do poeta: O AMOR O amor!... Um sonho, um nome, uma quimera, / Uma sombra, um perfume, uma cintila, / Que pendura universos na pupila, / E eterniza numa alma a primavera; Que faz o ninho e dá meiguice à fera, / E humaniza o rochedo, e o bronze, e a argila, / Sem o afago do qual Deus se aniquila / Dentro da própria luminosa esfera.A música dos sóis, o ardor do verme, / O beijo louco da semente inerme, / Vulcão, que o vento arrasta em tênue pós:Curvas suaves, deslumbrantes seios / De vida e formas variegadas cheios. / É o amor em nós, e o amor fora de nós.
Luiz Carlos Amorim é Coordenador do Grupo Literário A ILHA em SC, com 31 anos de atividades e editor das Edições A ILHA. Ocupante da cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras. Eleito a Personalidade Literária de 2011, pela Academia Catarinense de Letras e ARtes. Outros Artigos do autor:
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