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Parabéns Senhor Presidente no Teatro Amazonas
O espetáculo transporta a plateia para o ano de 1962. Por Vivian Gramphone, quinta-feira, 7 de novembro de 2019
A comemoração do 45º aniversário de John Kennedy, no dia 19 de maio de 1962, ficou marcada na vida de duas grandes divas: Marilyn Monroe, que cantou um “Happy Birthday” tão sexy quanto histórico, e Maria Callas, ovacionada minutos antes, ao cantar “Habanera” da ópera “Carmen”, sem imaginar que a aproximação em relação à família Kennedy levaria, anos mais tarde, ao fim de seu romance com Aristóteles Onassis. Nessa histórica noite, Callas e Monroe se encontraram nos bastidores do Madison Square Garden. Essa conversa é o ponto de partida de “Parabéns senhor presidente”, texto de Fernando Duarte e Rita Elmôr, com direção de Fernando Philbert.
O espetáculo Depois de ter cantado "Habanera", de Carmen, Callas se viu repentinamente diante de Marilyn, que, com os olhos marejados, abraçou a cantora e disse: “Somente uma pessoa que conheceu o amor verdadeiro, consegue cantar como a senhora. Mas vejo tanta tristeza no seu olhar.” Callas, orgulhosa e vaidosa como era, não gostou do comentário e disparou: “Se a senhorita pensa que pode falar tudo o que lhe vier à cabeça apenas por ser Marilyn Monroe, está enganada. “ Depois de assistir à apresentação da atriz, Callas ficou comovida e no dia seguinte enviou uma orquídea para Marilyn, o cartão dizia: “A senhorita é uma boa alma, eu não soube compreende-la, peço que me perdoe”.
Escrito por Fernando Duarte e Rita Elmôr, o texto organiza um diálogo que expõe, ao mesmo tempo, as distâncias e as proximidades entre as duas, ressaltando a beleza do universo feminino em sua complexidade. Em cena, dois dos maiores mitos da feminilidade do século XX: Marilyn Monroe, a mais absoluta encarnação da carência afetiva, e Maria Callas, uma voz de diamante em forma de mulher. Apesar das diferenças entre elas, perceptíveis de imediato, a mesma prisão sombria as aproxima, a dificuldade de se afirmar com autonomia em um mundo controlado pelos homens e a impossibilidade de encarar a vida sem afeto. Dividindo o mesmo espaço por uma hora, as duas mulheres mais famosas do mundo, conversam sobre o universo particular de cada uma, sem imaginar que Marilyn, iria falecer dois meses depois. Ambas falam de suas inquietações com seus relacionamentos, suas aparências e suas competências para exercer suas profissões, entre outras coisas. São duas pessoas fascinantes, que, por motivos diferentes, tiveram grande projeção e fins trágicos. A grande questão é como duas pessoas de universos tão distintos se relacionariam e o olhar diferente que tinham sobre uma série de situações. Callas era extremamente técnica e rigorosa, enquanto Marilyn era intuitiva e até um pouco irresponsável, graças a sua instabilidade emocional. Ao mesmo tempo, Callas, antes de Onassis, foi casada com um homem muito mais velho e não teve vida sexual até os 32 anos. Já Marilyn casou sempre por paixão e traiu todos os maridos, não ficando um dia sequer ao lado deles sem estar feliz. Mais do que falar de Callas e Monroe, o texto aborda temas relevantes sobre o universo feminino. Em cena, as duas mulheres – independentes e bem-sucedidas – o que era raro nos anos 1960, falam com franqueza sobre assuntos ainda em pauta nos dias de hoje. O espetáculo explora, graças ao duelo verbal entre as duas, o drama feminino dos tempos recentes, a divisão entre afeto e realização, o conflito diante do papel a desempenhar em um mundo ainda regido pelos homens. A partir da diferença inicial entre os dois perfis – a intelectual e a sensual – o espetáculo desnuda, com humor, ironia e deliciosas sutilezas de raciocínio, o drama único que envolve muitas mulheres em nosso tempo. Mais do que falar de Callas ou de Marilyn, ela fala de nós, hoje. Ela funciona a favor de uma defesa da humanidade cotidiana, aquela que, em geral, atribuímos às mulheres, afinal um valor a cultivar. Não fala, portanto, apenas de figuras célebres: este drama está na esquina dos dias de todos os que enfrentam a luta da vida.
Sobre Maria Callas
A mulher que traduzia fielmente o feminino no que diz respeito à força e fragilidade. Por amor ela renunciou sua consagrada carreira, silenciando sua voz. Nesta obra teatral, são compartilhados as dúvidas e medos de “La Divina Callas”, a imperatriz do Bel Canto, que nos deixou como herança sua voz imortal. Callas, a diva das divas. Única. Uma força da natureza. A indomável Callas, geniosa, intempestiva, era regida pelos sentimentos.
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· Eu sou uma mulher e adoro ser uma.
· Homens estão tentando ir a lua, mas não parecem se preocupar com o coração humano pulsante.
Curiosidades: · O espetáculo terá a sua estreia nacional no dia 15 de novembro de 2019, as 20h, no belíssimo e histórico Teatro Amazonas, em Manaus. O Teatro Amazonas é um dos mais importantes teatros do Brasil e o principal cartão postal da cidade de Manaus. Localizado no Centro da cidade, no Largo de São Sebastião, foi inaugurado em 1896 para atender ao desejo da elite amazonense da época, que queria que a cidade estivesse à altura dos grandes centros culturais.
· Fernando Duarte escreveu também “Callas” sobre a vida de Maria Callas, dirigido por Marilia Pêra. O espetáculo ficou três anos em cartaz. Escreveu também “Depois do amor”, ultima direção de Marília, o espetáculo também teve a sua estreia nacional no palco do Teatro Amazonas.
Texto - Fernando Duarte e Rita Elmôr
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