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Em processo de tombamento, obra de artista amazonense é apagada sem explicações
A Capela Nossa Senhora do Sameiro trazia em seu teto uma pintura do artista Nelson Falcão. Por Três Comunicação e Marketing, terça-feira, 26 de novembro de 2019
Reinaugurada em 2011, a Capela Nossa Senhora do Sameiro, localizada na Ponta Negra, zona Oeste de Manaus, trazia em seu teto uma pintura, de aproximadamente 100 metros quadrados, do artista plástico amazonense Nelson Falcão. A obra levou quatro anos para ser finalizada e, atualmente, encontra-se em processo de tombamento como Patrimônio Cultural do Estado do Amazonas. Entretanto, no início desta semana, o autor da pintura foi surpreendido com sua obra apagada. “Não me deram nenhuma explicação, tentei conversar com o capelão, mas reunião. Ainda em setembro, no dia do meu aniversário, visitei a capela e encontrei o zelador que, inclusive me sinalizou sobre uma pequena área infiltrada no teto, então sugeri que impermeabilizassem o teto que eu faria os reparos na pintura, mas ontem, quando passei em frente à capela tomei um susto ao ver que o teto, paredes e a até a pintura do Cristo do altar estavam pintadas de branco”, lamenta o artista Nelson Falcão, que revela que ela era a única capela do Norte com a abóbada pintada à óleo. Ele utilizou as mesmas técnicas de perspectiva da Capela Sistina, que fica localizada na cidade do Vaticano, em Roma. A obra-prima de Michelangelo traz em uma única composição de várias cenas do Antigo Testamento, da Bíblia. Estão lá a criação de Adão, a expulsão do Jardim do Éden e o dilúvio. Na Capela Nossa Senhora do Sameiro, Nelson buscou também transcender as questões cronológicas do Antigo e do Novo Testamento. A imagem da ascenção de Nossa Senhora era representada pela padroeira da capela e emoldurada pelos coros angelicais de arcanjos que simbolizam as emanações divinas. O nome sagrado de Deus, Tetragramaton, marcava simbolicamente o início, o fim e o recomeço, enquanto Jesus, retratado fisicamente sob uma perspectiva histórica e com a licença poética do artista, determina o recomeço, o início de um novo ciclo. Do sonho ao esboço Os primeiros esboços para a pintura da abóbada da Capela Nossa Senhora do Sameiro iniciaram em meados de 2005, mas a ideia de pintá-la nasceu muito antes disso. Nelson conta que ainda na sua minha adolescência, quando ao entrar na capela pela primeira vez percebeu algo muito especial, uma áurea de grandiosidade espiritual emanada pela simplicidade arquitetônica do local. “Essa experiência me fez refletir por algum tempo sobre muitas questões relacionadas à espiritualidade humana, especialmente sobre o significado da “casa de Deus”. Naquela capela aprendi que esta “casa” não deveria ser um espaço de beleza pela ostentação, mas de encantamento pela sutileza do sagrado. Das reflexões, surgiu a vontade de doar para aquele espaço algo de valor imaterial”, lembra o artista. E foi durante uma missa que, por um momento, ele se viu pintando a abóbada da capela, revelando naquele mesmo dia o meu desejo ao então capelão franciscano Frei Hércules, que se mostrou bastante entusiasmado com a ideia. “Nessa época, eu era apenas um garoto que gostava de arte, mas que não tinha nenhuma bagagem técnica para realizar aquela pintura. Até que fui estudar Artes Visuais e o convite surgiu novamente”, disse Nelson Falcão, que até ali já havia feito várias exposições no Brasil e no exterior, mas sem dúvida o trabalho da Capela se tornaria o mais importante de todos. “Com o incentivo da minha mãe, frequentadora da Paróquia Nossa Senhora do Sameiro e entusiasta dessa obra, iniciei ainda distante de Manaus os primeiros esboços do projeto”, afirma o artista, que dava andamento à sua obra sempre que vinha passar férias na capital amazonense. Durante esse período, o artista abria mão de ficar com sua família para dedicar-se a pintura por dias e noites, o que causou sequelas na sua coluna . “Apesar de todo esforço, foi uma experiência extraordinária, que me marcou pra sempre o corpo e o espírito” desabafa o artista.
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