O samba feminino vem crescendo em Manaus e, de acordo com as sambistas amazonenses, ainda está muito aquém do que deveria, sendo que as mulheres do samba ainda não dominam o mercado local. E com o intuito de fortalecer esse segmento, mulheres do seguimento do samba resolveram se unir e criar um coletivo feminino de samba amazonense, o "SAMBAYÁ".
Yá, na linguagem iorubá quer dizer "mãe". “Somos mães e mulheres levando, para todos os cantos, o cântico nascido de raízes africanas que moldou a cultura brasileira: o samba”, diz Alessandra Vieira, uma das participantes.
O coletivo é a junção de integrantes de alguns grupos de samba de mulheres que já existem em Manaus, como o Samba Com as Moças, Samba de Cunhã e Aiyras de Maria.
O Coletivo SAMBAYÁ conta com 6 integrantes que compõem uma banda base, agregando outras mulheres do samba que se juntam para somar, fazendo participações especiais em rodas de samba promovidas pelo grupo. As componentes são Fúlvia Gomes (cavaco e voz), Júlia Linhares (pandeiro), Clara Rimoli (violão) e Thais Mota (reco e tamborim), integrantes e fundadoras do grupo Samba de Cunhã e Aiyras de Maria. Além de Alessandra Vieira (surdo e voz) e Thayanne Rios (tantã), fundadoras do grupo Samba Com as Moças.
De acordo com Fúlvia Gomes, uma das fundadoras do coletivo, o predomínio masculino do samba no Amazonas, tanto em eventos como nas rodas de samba, foram a principal motivação para a criação desse coletivo. “SAMBAYÁ surgiu após a reunião de algumas das participantes do “5º Encontro das Mulheres na Roda de Samba 2022”, edição Manaus. Um evento de nível internacional que reúne mulheres sambistas do mundo todo para uma roda de samba que acontece anualmente, com transmissão ao vivo e de forma simultânea. O objetivo é protagonizar a participação das mulheres no samba em diversos locais da cidade de Manaus, fazendo com que demais mulheres se encorajem e sintam-se representadas e venham a fazer parte conosco ou no canto, ou através da execução de instrumentos musicais, contribuindo com as suas respectivas habilidades, ou com a força de vontade em aprender a tocar um instrumento musical, através de oficinas promovidas por nós, mas sempre prezando pelo respeito à diversidade social e o contexto histórico que cada uma carrega. Nossa inspiração vem de Elza Soares, Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Lucinha Cabral, Tereza Cristina, Tia Surica, Ivone Lara, Márcia Siqueira, Celestina Maria e tantas outras sambistas que lutaram em seus palcos antes de nós, assim pretendemos manter este samba feito por mulheres vivo, alegre e acolhedor”, acrescenta ela.
Alessandra Vieira, fundadora do grupo Samba Com as Moças, fala da dificuldade que foi montar um grupo feminino de samba no Amazonas. “Samba Com as Moças foi o 1° grupo de samba feminino nascido no Amazonas. Ele foi criado há 5 anos, e lançado há 3 anos, na cara e na coragem, do jeito que sabíamos fazer. O intuito foi inspirar outras mulheres e abrir portas para o samba feminino no nosso Estado, pois percebi que só existiam grupos de samba e pagode masculinos, até então.
Queríamos mostrar que a mulher sambista aqui poderia fazer muito mais dentro do samba além de dançar. Queríamos tocar, compor e cantar samba ao mesmo tempo. Mas confesso que montar um grupo feminino de sambistas não foi fácil. Quando eu e Thayanne Rios pensamos na ideia, não tínhamos noção da escassez de mulheres instrumentistas em Manaus. Você não vê com frequência, por exemplo, grupos femininos compostos só por mulheres tocando e cantando por aqui, principalmente na área do samba, que é um ritmo complexo.
Ainda encontramos cantoras, passistas e algumas ritmistas dentro das escolas de samba, mas numa quantidade muito inferior aos homens. Foi uma busca incessante e exaustiva de 2 anos até conseguir montar o grupo. Samba Com as Moças têm ao todo 5 anos, entre a sua formação e o lançamento, além de 4 sambas autorais, e mesmo assim, por várias vezes me desmotivei e pensei em desistir.
Por isso, para mim, fazer parte desse coletivo é de extrema importância, pois só me motiva ainda mais. Fortalecer o samba feminino, é romper barreiras que infelizmente ainda encontramos por aqui”, diz ela.
E para marcar o lançamento do coletivo SAMBAYÁ, nesta sexta (27), elas estarão se apresentando na Toca do Mumu, a partir das 22h, fazendo muito samba, pagode e axé. A Toca do Mumu fica na rua Altair Severiano Nunes, nº 13, Conj. Eldorado, Parque 10. O acesso custa R$15,00.