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Ex-PF no Comando do Tráfico: Aposentado é Alvo por Esquema de 2 Mil Fuzis de Miami

O esquema funcionava de maneira estruturada, utilizando métodos avançados de ocultação e transporte de armas.

Por Gabriela Matias,
sexta-feira, 21 de março de 2025
 
 
 

Ex-PF no Comando do Tráfico: Aposentado é Alvo por Esquema de 2 Mil Fuzis de Miami
Armas apreendidas / Foto: © Reprodução / Divulgação

O esquema funcionava de maneira estruturada, utilizando métodos avançados de ocultação e transporte de armas. Os fuzis eram enviados desmontados e escondidos em contêineres com mercadorias legalizadas, dificultando a detecção pela fiscalização aduaneira.

A Operação Cash Courier, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (20), revelou um sofisticado esquema de tráfico internacional de armas que operava entre os Estados Unidos e o Brasil. Investigações apontam que mais de 2 mil fuzis foram enviados de Miami para o Rio de Janeiro, abastecendo facções criminosas que atuam no estado. Após chegarem ao Brasil, as armas eram reconstituídas por especialistas e distribuídas entre grupos criminosos, aumentando significativamente o seu poder de fogo.

Além do comércio ilegal de armamentos, a organização operava um robusto sistema de lavagem de dinheiro, empregando empresas de fachada, aquisição de imóveis de luxo e movimentações financeiras internacionais para ocultar a origem dos recursos ilícitos. O grupo criminoso movimentou milhões de reais, mascarando suas atividades como transações comerciais legítimas para evitar o rastreamento por autoridades.

A ação da Polícia Federal e a identificação do líder do esquema

Após anos de investigação, a Polícia Federal identificou o verdadeiro líder da organização criminosa, um policial federal aposentado, que teria coordenado as operações financeiras e logísticas do grupo. Para garantir o sigilo das transações, o esquema envolvia intermediários, documentos falsificados e redes de contatos internacionais.

Na operação desta quinta-feira, a PF cumpriu 14 mandados de busca e apreensão, principalmente em bairros de alto padrão, como Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. Os agentes também determinaram o bloqueio e sequestro de R$ 50 milhões em bens e ativos ligados à organização criminosa.

Resistência e prisão de um dos investigados

Durante o cumprimento dos mandados, houve resistência por parte de um dos alvos da operação, que atirou contra os agentes da Polícia Federal quando tentavam acessar sua residência no Recreio dos Bandeirantes. O confronto não deixou feridos, e o suspeito foi preso em flagrante.

Além das acusações já enfrentadas, o indivíduo agora responderá por tentativa de homicídio contra agentes públicos e posse ilegal de arma de fogo, o que pode agravar sua pena.

A estratégia financeira e o golpe na estrutura econômica do crime

Para desmontar a estrutura financeira da organização criminosa, a Justiça determinou o bloqueio de contas bancárias, o sequestro de imóveis de alto padrão e a interrupção de atividades comerciais ligadas ao esquema. Os R$50 milhões bloqueados representam um duro golpe para o grupo, que dependia da movimentação desses recursos para sustentar suas operações ilegais.

Essa estratégia de asfixia financeira é essencial para impedir que organizações criminosas continuem operando mesmo após a prisão de seus líderes. O bloqueio de bens visa evitar que o dinheiro obtido por meio do tráfico de armas continue circulando no sistema financeiro, dificultando a retomada das atividades ilícitas.

Implicações jurídicas e possíveis condenações

Os investigados podem enfrentar acusações por diversos crimes previstos na legislação brasileira, incluindo:

Tráfico internacional de armas – pena de 4 a 8 anos de reclusão.
Organização criminosa – pena de 3 a 8 anos de reclusão.
Lavagem de dinheiro – pena de 3 a 10 anos de reclusão.
Evasão de divisas – pena de 2 a 6 anos de reclusão.
Corrupção ativa e passiva – penas variam de 2 a 12 anos, dependendo do caso.

Caso sejam condenados por todas as infrações, os envolvidos podem enfrentar décadas de prisão, além da perda definitiva de seus bens adquiridos ilicitamente.

Segundo Dr. João Valença, advogado criminalista do escritório VLV Advogados, a Operação Cash Courier demonstra a eficácia do combate ao tráfico de armas quando há um trabalho integrado entre órgãos de segurança pública.

"O tráfico de armas não é um crime isolado. Ele alimenta diversas outras práticas criminosas, como assaltos a bancos, sequestros e guerras entre facções. A atuação da Polícia Federal em conjunto com outras autoridades é fundamental para desarticular essas organizações, não apenas prendendo criminosos, mas também desmantelando suas redes financeiras."

Ele também enfatiza que a tentativa de homicídio contra agentes da PF pode resultar em uma pena ainda mais severa para o suspeito preso em flagrante:

"Reagir a uma abordagem policial com disparos de arma de fogo demonstra a periculosidade do criminoso e pode agravar sua condenação. A legislação penal prevê punições mais rigorosas para crimes cometidos contra agentes de segurança pública no exercício de sua função, o que pode elevar a pena final do réu."

A Operação Cash Courier marca um avanço significativo no combate ao tráfico internacional de armas, atingindo não apenas os operadores do esquema, mas também sua base financeira.
A apreensão de bens, o bloqueio de contas bancárias e a prisão de envolvidos são estratégias essenciais para impedir que organizações criminosas se reestruturem após ações policiais. O impacto dessa operação pode refletir diretamente na redução do poder de fogo de facções criminosas, enfraquecendo sua capacidade de confronto com forças de segurança e diminuindo a violência urbana.

As investigações devem continuar, e a expectativa é que novos envolvidos sejam identificados e presos nos próximos meses. O desmantelamento desse esquema reforça a importância do trabalho coordenado entre as forças de segurança para desarticular redes criminosas que lucram com o tráfico de armas e ameaçam a ordem pública no Brasil.

 

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